O ano de 2020 é, sem dúvidas, um sério candidato aos óscares do pessimismo e da especulação. Não tenho memória de um período tão rico e fecundo em previsões apocalípticas como este que felizmente caminha a passos largos para o fim.
Sobre África, em geral, e Angola, em particular, as previsões são verdadeiramente estarrecedoras. Desenhava-se no horizonte uma catástrofe humanitária, com consequências económicas e sociais incalculáveis. Preparamo-nos para o pior e recorremos ao que nos restava do estoque da resiliência e da solidariedade, para enfrentar a mais democrática das enfermidades, a famigerada COVID 19.
Seis meses se passaram desde a notificação do primeiro caso em Angola e, até ao momento, tem havido, da parte das autoridades nacionais, uma grande capacidade de resposta.
Os dados estatísticos que diariamente se apresentam contrariam de forma ostensiva, e com algum estoicismo, o cenário da crise humanitária, que alguns analistas nacionais e internacionais davam como certa.
Infelizmente, o mesmo não se pode dizer em relação aos indicadores macroeconómicos. O relatório de desempenho da economia do primeiro trimestre de 2020 é assaz preocupante. A economia angolana teve um crescimento negativo na ordem de -1.8% o que representa um rude golpe para as aspirações nacionais, num ano que tinha tudo para ser o marco da retoma do crescimento.
Todavia, nem tudo são más notícias. Um olhar mais atento às contas nacionais revela, de forma cristalina, as imensas oportunidades e o grande potencial de crescimento da economia angolana.
Dados resultantes do Inquérito Sobre o Emprego, recentemente publicado pelo Instituto Nacional de Estatística, apontam que mais de 72% da população activa se encontra empregada no sector informal. Este número pode ser encarado como uma praga para a economia nacional, ou antes como uma verdadeira oportunidade de crescimento, tudo dependendo das lentes de que nos servimos.
De minha parte, acredito piamente que a solução de muitos dos nossos crónicos problemas passa pela urgente transposição da forte e resiliente economia paralela para o espectro formal.
Acredito que uma abordagem inteligente aos numerosos e criativos actores do sector informal inverteriam, consideravelmente, o quadro dos indicadores económicos. Isto passa pelo auxílio da formalização das respectivas actividades, pela facilitação do acesso ao crédito e aos serviços sociais básicos. Pela capacitação e formação profissional, deste exército de trabalhadores cuja força e capacidade empreendedora é objectivamente verificável à vista desarmada.
Autor: Pedro José Filipe, Secretario de Estado para o Trabalho e Segurança Social
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